segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA (Henrique Nicolini)

alemdosfatos@gazetaesportiva.com.br

São Paulo (SP) - Assistimos, na manhã da última sexta-feira, a um dos maiores espetáculos já realizados desde que Deus criou o mundo.

Noventa mil privilegiados presenciaram no próprio local uma exibição de incomparável beleza plástica que, transmitida pela televisão, chegou a emocionar quatro bilhões de pessoas nos cinco continentes.

A abertura da Olimpíada da Era Moderna realizada em Pequim atingiu o máximo que a arte, a beleza plástica, cores, sons, fogos de artifício, música poderiam obter. Formou um conjunto de quadros que emocionou a todos os que contemplaram o que representava o ápice que a criatividade humana poderia produzir.

Os efeitos da coreografia dos tambores não era o resultado de um programa de computadores, mas de um esforço humano e correspondiam a muitos meses de treinamento diário de mais de dois mil indivíduos que, com disciplina chinesa, se dedicaram a ensaios fatigantes.

Sorriso, alegria, alto astral mostravam o que todas as campanhas derrotistas que antecederam os Jogos não conseguiram empanar. O fogo simbólico chegou de maneira empolgante ao Estádio Olímpico e o desejo de apagá-la, na sua trajetória por alguns continentes, não evitou que um ex-ginasta, Li Ning, flutuasse no ar acendendo a chama sagrada. A festa conseguiu reunir gente de todas as etnias, das mais diferentes línguas e religiões, irmanado-as num sentimento de fraternidade que só o esporte constrói.

As nações do mundo divergem por políticas, regimes sociais, pelo nacionalismo e interesses econômicos. Desde que o homem existe na Terra, houve disputas permanentes. Aproveitar para radicalizá-las e agredir o país-sede no momento dos Jogos não deixa de ser uma atitude não condizente com o espírito olímpico.

Todos sabemos da precariedade dos direitos civis na China, mas isto existe desde os anos 30 do século passado, quando Chiang Kai Chek perdeu um confronto contra a esquerda revolucionária.

Quebrar uma realidade de mais de três quartos de século, justamente quando se realiza o único espetáculo que reúne pacificamente todos os continentes, é um absurdo, pois além da China o principal agredido eram os próprios Jogos Olímpicos.

Na realidade, muitos ataques à passagem da tocha olímpica a caminho de Pequim foram, possivelmente, efetuados por grupos de pessoas atingidas pelo avanço comercial de um país que, pelo esforço de seu povo, caminha para a liderança como potência econômica.

Os direitos humanos retornarão um dia ao país mais populoso do mundo como conseqüência deste mesmo progresso e como resultado do intercâmbio com o resto do mundo, do qual os Jogos Olímpicos são a maior demonstração.

A festa do simbólico “oito de oito de dois mil e oito” foi um marco de aproximação entre os homens, uma planta regada pelo sorriso dos anfitriões para com seus hóspedes.

NO PÉ

VENDO O MUNDO PASSAR

Quem estava nas tribunas no dia do desfile de abertura dos Jogos Olímpicos viu o mundo passar diante dos seus olhos. Contemplou as cores de 205 bandeiras das nações, algumas que não passavam de ilhotas perdidas no Pacífico até as de países de dimensões continentais, como a Rússia, os Estados Unidos, o Canadá, a própria China, e por que não dizer, o nosso.

Eram desfilantes brancos, pretos, amarelos. Olhos redondos ou amendoados, vestindo batas muçulmanas ou trajes típicos, antípodas como um finlandês ou um sudanês. Eram pobres e ricos, enfim, a síntese de um planeta. Uma verdadeira lição de geografia humana.

O autor destas linhas teve o privilégio de presenciar um espetáculo com este matiz, “in loco”, por quatro vezes: Munique (1972), Los Angeles (1984), Seul (1988) e Barcelona (1992).

Procuramos, nessas ocasiões, sempre transmitir o entusiasmo que o simbolismo da festa nos proporcionava.

Nos dias seguintes à Olimpíada de 1984, buscamos o noticiário de outros jornais, para verificar como meus colegas haviam recebido aquele memorável espetáculo.

A desilusão veio com a manchete de um vespertino paulista de um repórter depois do desfile de Los Angeles. O texto era: “O joelho do Renan preocupa”.

A situação de uma articulação de um jogador de voleibol era mais importante que toda a festa da reunião pelo esporte de centenas de países do mundo. A escala de valores estava invertida.

O seu ao seu dono! - O TIME É DO BRASIL E NÃO DE BERNARDINHO

Discordo totalmente da intensidade com a qual os meus colegas de crônica se referem à equipe de voleibol masculino como “o time de Bernardinho”.

Aquela seleção vencedora é do Brasil, é de todos os brasileiros e não somente de uma figura birrenta que, não se sabe por quais cargas d’água, assumiu a paternidade e a propriedade de uma instituição pertencente ao próprio país, e para cuja existência contribuíram muitas pessoas: professores de educação física, técnicos, dirigentes de clubes e federações dos Estados de cada um dos selecionados, que desde o ano 2000 estão no topo do voleibol brasileiro.

É curiosa esta vinculação com a mídia carioca (principalmente com a Globo) cuja mesma referência outros veículos de toda a imprensa nacional passaram a utilizar.

O estranho nisso tudo é que o atual técnico da seleção feminina, José Roberto Guimarães, campeão olímpico com a equipe masculina em 1992, Barcelona, e com méritos idênticos aos de Bernardinho (só que mais contido e menos explosivo), não recebe o mesmo tratamento da mídia. São fatos incompreensíveis, talvez decorrentes do tratamento “globalizado” deste assunto.

A moda está se alastrando e as equipes dos principais clubes já são mencionadas pelo nome de seus treinadores e não mais pela denominação dos clubes, repetimos, numa grande injustiça para quem efetivamente dirige e organiza a agremiação.

Já é tempo de corrigir a distorção. Para mim, o time de futebol do Brasil é do Brasil e não de Dunga, a equipe do Palmeiras é do Palmeiras e não de Wanderley Luxemburgo.

O provérbio diz: “O seu ao seu dono”!

< MAIS ESTÁ SARRAFO>

Se eu fosse o presidente Lula, ou mesmo Carlos Arthur Nuzman, além de curtir o efusivo espetáculo da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, ficaria com um frio na espinha.

Se os chineses apresentaram uma festa daquele tipo, com um custo de mais de trezentos milhões de dólares e uma qualidade que não tem preço, as próximas sedes dos Jogos não podem deixar por menos. Existe a responsabilidade de se fazer algo, em um nível paralelo.

Sem dúvida, o sarrafo ficou mais alto! Cada país-sede de agora em diante vai precisar saltar mais alto para não desiludir um público de quatro bilhões de pessoas.

Nesta altura, os dirigentes brasileiros precisam repensar o estudo prévio para os Jogos e até meditar sobre a conveniência de efetuá-los, se vencerem a candidatura para 2016. Mesmo que não haja as previsíveis corrupção e superfaturamento de obras, uma festa como a chinesa irá ocupar uma parte majoritária do orçamento de quase uma década.

É verdade que, como a China, poderemos demonstrar que somos uma superpotência, mas será que o sacrifício de outras prioridades vai compensar?

MUDA A OPINIÃO SOBRE A CHINA

Cremos que, após a realização destes Jogos Olímpicos, a opinião de todo o mundo vai mudar no que diz respeito à importância da China.

Sem dúvida, o grande país asiático mostrou com clareza que não é mais um “emergente”, mas está entre as três maiores potências mundiais.

Depois desta Olimpíada, a China vai ser admirada pela população do mundo, por ter mostrado eficiência e organização nos mínimos detalhes daquele evento.

Aquele país pode também conquistar o maior número de medalhas em disputa e tornar-se a mais importante potência esportiva mundial.

A custo-benefício, foi um grande negócio organizar esta edição dos Jogos Olímpicos.

UMA LIÇÃO PARA APRENDER

Bush, Putin, Lula, o premiê francês e chefes de Estado de setenta países estavam na tribuna assistindo à abertura dos Jogos.

Viram um exemplo de harmonia entre as nações. Será que o espetáculo não deve ter influído em suas convicções também sobre a harmonia entre as nações e a contribuição do esporte para esta finalidade?

Chineses foram muito corteses com os visitantes de todos os países do mundo. O sorriso ganhou de 10 a 0 da cara feia.

SOU CIDADÃO JUNDIAIENSE

Recebemos, muito honrados, na última sexta-feira, o título de Cidadão Jundiaiense, proposto pelo vereador Júlio César, a quem agradecemos esta grande cortesia.

O meu vínculo com a cidade data do início de minha vida profissional. Lecionei na Escola Industrial e me integrei na vida daquela cidade durante 12 anos.

Fui membro da Comissão Municipal de Esportes e formei uma equipe de voleibol que se sagrou campeã de toda a rede do ensino profissional do Estado de São Paulo. Fui técnico de vôlei da seleção jundiaiense nos Jogos Abertos do Interior realizados em Santos, em 1957.

Acompanhei a construção do “Bolão”, o magnífico ginásio de esportes de Jundiaí. Quando ele estava em obras, eu já era jornalista. Entrevistando William Jones, um ícone na história do basquete em visita ao Brasil, consegui que ele fosse visitar aquele ginásio ainda em construção, para poder sediar os Jogos Abertos do Interior.

Minha estima pela juventude daquela cidade deu frutos cinqüenta anos depois. Agora posso dizer com orgulho que sou cidadão jundiaiense.

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